A Pipa e a Flor
As pipas são engraçadas, foram feitas para voar, no entanto para isso precisam estar presas numa linha e a outra ponta da linha precisa estar segura por alguém.
Poderíamos pensar que, cortando a linha, a pipa pudesse voar mais alto, mas não é assim que acontece.
Se a linha for cortada, a pipa começa a cair.
Certa vez um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.
Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.
Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar.
Quanta felicidade ocorreu depois!
A flor segurava a linha, a pipa voava.
Na sua volta, a pipa contava para flor tudo o que vira.
Com o tempo a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa.
A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar:
“Se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim”.
Passado algum tempo, quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo.
A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
Cansada da atitude da flor, a pipa resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.
A inveja e o ciúme jamais conseguirão segurar alguém.
Autor: Rubem Alves
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